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O Homem do Paraguaçu

Por Izana Pereira

Era domingo, e Dondonga caminhava para o Paraguaçu. Aquele caminho era sagrado, era de fato o caminho da vida desse homem, tão marcado pelas impetuosas águas daquele rio.
Tornava-se ébrio ao entrar ali. Aquelas águas eram, nesse momento, o seu sangue, e o cheiro da brisa era seu alento. Todas as vezes que fazia esse percurso sentia que a emoção se renovava e se traduzia em um acréscimo de estima pelo Paraguaçu.
Era um caminho de lembranças, e vivo estava o desejo de reviver todas as suas aventuras. Não, aquilo não era um retrocesso, anacronismo ou vontade de ter vinte anos novamente, era apenas nostalgia e orgulho de uma trajetória marcada por fatos que reforçam a existência do homem e do rio.
Lembrava as noites que passara pescando, e vendo surgir em meio à escuridão da noite o lendário Nego D’água, o respeitado protetor do Paraguaçu. Dondonga sentia medo, pudor e principalmente honra por possuir o prazer de ser visitado pelo imponente rei daquelas águas.
Aquelas noites eram tão instigantes! Mergulhava na mais profunda escuridão, às vezes iluminado apenas pelo brilho da lua.
E, tendo somente a lua como testemunha, encontrou pela última vez a suave brisa do Paraguaçu. Então, mergulhou e tornou-se parte do rio, como sempre sonhou fazer.

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