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Olhar

Foto: Izana Pereira

Um dia bonito, um sol ardente.
Um homem a sonhar.

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Maria, Menina, Mulher

Por Izana de Jesus Pereira

Era mais um dia quente de dezembro e Maria cumpria sua rotina diária. Voltava do velho “Lago dos Aflitos” de onde trazia água-suja, barrenta, escassa – para saciar a sede de duas cabeças de gado, da mãe e dos seis irmãos.
Na cabeça além da preocupação com a família, levava um dos dois baldes; no chão, pés descalços, rachados como a terra seca, teimavam em andar, enquanto o corpo tremia refletindo a dor em seus frágeis ossos; e no céu o “vilão”, o astro, ardente, imponente, algoz, reinava assíduo: há quase um ano não faltava aos quentes dias do sertão.
Os irmãos brincavam à sombra do umbuzeiro – a única árvore que resistira à seca naquele imenso quintal. A mãe sentada no canto esquerdo da varanda mantinha os olhos fixos no horizonte, nem ao menos piscava, saia poucas vezes desta posição, e ali ficava até o anoitecer – fazia isso todos os dias desde que o marido saíra de casa e fora para São Paulo em busca de emprego.
Amava aqueles irmãos como filhos, o amor materno surgira cedo naquele peito; tinha apenas quinze anos, e quando as pessoas afirmavam que ela não tinha maturidade para assumir a responsabilidade da casa, após a depressão da mãe, ela respondia com as palavras da falecida avó: “Tudo é muito cedo no sertão.”.
“Ah! Sabias palavras de minha vó” – pensava Maria ao cair da noite, debruçada, sozinha na porteira, a admirar a lua em sua plenitude. Aquele fora um dia de reflexão; embora vivessem entre tantas adversidades, eram unidos e ela se sentia feliz. Extraia alegria daquele momento, olhava a lua cheia e se enchia de coragem para enfrentar um novo dia.

Foto: Izana Pereira


Mal sabia ela que tudo mudaria, e mudaria cedo. O dia amanheceu em silêncio e o silêncio a entristecia; olhou pela janela e não viu o gado a andar pelo quintal, saiu e viu urubus a voar sobre duas carcaças estiradas; os dois últimos bois que iriam vender morreram no meio da noite. Assim começou a seqüência de desgraças em sua vida - começou porque a seca para os sertanejos não é desgraça, é uma condição que aprendem a aceitar desde criança.
Os alimentos começaram a acabar, as crianças famintas, choravam constantemente, e fracas contraiam doenças. A situação piorava, não chovia, mas contavam com a ajuda de vizinhos – a solidariedade entre os sertanejos, quase sempre isolados do resto do país, é constante. Mesmo assim aquele foi um dos piores anos de sua vida, a morte lhe roubou três irmãos, todos levados pela mesma enfermidade que ninguém sabia o que era, e a enfermeira-chefe do posto de saúde diagnosticou como: “um certo tipo de virose.”
No ano seguinte alimentou a esperança de que tudo ia melhorar – mas estava errada. Foi obrigada a mandar os dois irmãos mais novos com um casal de viajantes que demonstrou interesse neles. Aquilo doeu muito, mas a família precisava se alimentar, e o casal deu um pouco de dinheiro em agradecimento pela aquisição. E, além disso, acreditavam que as crianças – doadas – teriam a chance de ter uma vida melhor.
Agora eram três: Maria, seu irmão Umberto e a mãe, ali sempre à espera de seu pai. Umberto estava ficando rapaz e quando voltava da fazenda onde trabalhava curtindo couro, a ajudava no trabalho doméstico. Assim viveram um tempo, esperando tudo mudar novamente – e mudou: a mãe morreu, o umbuzeiro secou, e Maria com medo de ficar sozinha, já que a morte não a levava, casou-se com um rapaz, de nome João que trabalhava junto com Umberto. Viveram assim, até tudo se modificar mais uma vez. Umberto e João perderam o emprego, mas logo foram trabalhar em uma maldita carvoaria, onde um tempo depois, morreram com os pulmões infectados daquele odioso pó.
Enterrou os dois entre lagrimas. Primeiro Umberto, e depois João – foi a despedida mais dolorosa, porque sabia que agora não teria mais ninguém. Naquele dia choveu; parecia que o mundo chorava com ela. A chuva surpreendentemente a fez sofrer, a fez lembrar de toda sua jornada de aflição.
Estava só. Sozinha, no seio da seca. Mesmo assim acreditava que a vida não é tão ruim ou pelo menos não nos fere o tempo todo.
Agora do alto de um pau-de-arara, ela refaz os caminhos do pai em busca de um novo começo. Olhando as estrelas, e a lua cheia, se enche de coragem novamente. Alimenta mais uma vez a esperança de uma vida melhor, e junto dos outros sertanejos, crê que na nova cidade encontrará o caminho para uma vida mais digna.
Tão pouco, menina. Tão cedo, mulher. Sempre Maria – sempre mar de sofrimento - Maria do sertão. Não sabe de seu futuro, não sabe por ande anda, e anda de pé no chão
.

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À Espera dos Lírios

Por Izana Pereira

Não tenho mais o brilho nos olhos de quando te conheci. Não tenho mais paz, a paz de estar contigo. No espelho me vejo e não me reconheço. A esperança hoje dá lugar a angustia, e carrego no peito a dor da tua perda. Ando pela praia como costumávamos fazer, mas as tardes agora são tristes; sem você tudo é triste, frio e sem graça.
Os dias são longos e tudo me lembra você: às 18h, ainda me pegam no portão a tua espera, mas você não chega; o vazio no quarto aumenta a falta da tua companhia e me lembra os doces momentos que passamos juntos.
Tudo que eu amava hoje me faz sofrer; olho as flores e sinto tão forte a tua presença, tão intenso era o perfume dos lírios que me dava como pedido de desculpa – após as nossas brigas eles estavam lá, quase sempre acompanhados de um bom vinho e um bilhete onde pedia perdão.
Não consigo mais viver, não posso mais dormir, pois os fantasmas da tua morte rondam a todo o momento o meu ser. Ando a sombra da culpa pela sua perda, e as imagens daquele oito de dezembro não saem mais de mim. O teu ciúme, a nossa discussão, a tua saída de carro, tenso, nervoso; e depois o telefonema que mudaria a minha vida, me dizendo que eu tinha perdido a tua.
Existem momentos que não acredito que te perdi, existem momentos que ainda estou à espera dos lírios, mas quando me dou conta de que tua perda é real, desejo estar entre os lírios, para poder enfim estar novamente perto de ti.


Marcela Costa, 20 de outubro de 2005.

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São Gonçalo dos Campos

Jardim do Recôncavo baiano

Por Izana Pereira

No início do século XVII, os bandeirantes ao avançarem para o interior da Bahia, fizeram plantações em uma localidade do Recôncavo baiano, que nomearam Campos da Cachoeira. Com o surgimento de uma imagem do santo São Gonçalo, nesta mesma época, os desbravadores construíram uma capela dedicada a ele. Em volta desta capela começou a se formar uma comunidade, que se denominou Freguesia de São Gonçalo, em 1696, que mais tarde originaria o município de São Gonçalo dos Campos.
Banhada pelo Rio Jacuípe, a cidade possui um clima predominantemente subtropical. Entre os principais tipos de relevo estão tabuleiros interioranos, baixada litorânea e tabuleiros pré-litorâneos. Sua vegetação é floresta estacional e decidual, alem de possuir contato com caatinga-floresta estacional.
Localizada a 109 km da capital do estado e com 30.401 habitantes, tem como atividades econômicas mais recorrentes as plantações de fumo, a agricultura e a pecuária, além da avicultura que vem se consolidando como principal pólo do mercado são-gonçalense.
Cultura
Entre as principais atividades culturais da cidade estão o samba de roda e a capoeira. A festa do padroeiro da cidade, realizada no mês de janeiro, guarda tradições seculares, como o bloco dos mandus, das almas e a banda infernal.
Em meio aos eventos que realiza anualmente, destacam-se o festival cultural de inverno, os festejos do São João, além das lavagens da igreja matriz – durante a festa do padroeiro – e dos bairros da cidade. O município possui muitas belezas naturais e uma estrutura arquitetônica esplêndida, e é conhecida como jardim do Recôncavo baiano, pela numerosidade e pela
beleza dos jardins que abriga.
Fotos de Izana Pereira

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